Não sei como foi com vocês (aqueles que não tem mais a mãe presente) mas comigo foi uma experiência devastadora. Tinha e tenho ainda uma ligação espiritual forte com aquela que me deu à luz, que lia poemas pra mim,que me levava ao cinema e ao teatro, que me apresentou à literatura e ao mundo das artes. Era uma mulher simples, porém intensa. Era Helena, a minha Mãe, gente!
Assim pintei o retrato dela
Ela tinha um olhar triste e distante
Eu, a única filha
Em dia de primeira comunhão
Não ficou pedra sobre pedra...
Pra ela eu escrevi este poema:
MÃE
De tantos dias esperando
Incansavelmente não perdeu a fé
De chegar não se sabe onde
De encontrar-se com não se sabe quem
Assim os dias foram passando
Moídos com mãos pacientes
Desfiados um a um
E tantos tempos foram passados
Que sua pele enrugou-se em vincos
Como sulcos de terra seca
Como verniz velho, craquelado
Como das árvores muito velhas
As velhíssimas árvores avós
E os sonhos?
Ah, os sonhos!
Aqueles se mantiveram intactos
Havia bebido da fonte da juventude
Porque ela conhecia O segredo
Das lembranças ?
Guardava as bandeiras brancas
Tremulantes em varais ao vento
Roupas enxaguadas em águas de anil
Coisas do passado
E dos dias de luta restou a paz
Da certeza do papel cumprido
Dos travesseiros livre dos espinhos
Dos lençóis de algodão macios
Assim dormiu
Deixando meu coração tão vulnerável e oco
Assim dormiu
Em começo de noite
Deixando minha vida em total eclipse
Congelado momento
Assim dormiu minha mãe
Assim dormiu a minha Mãe.
Sandra May
Postagem original do ano de 2012 MÃE