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Amadora, metida a poeta. Não me levem muito a sério...rss!

LAR, NÃO TÃO DOCE LAR


A mesa da cozinha era o centro das atenções, lugar da mais alta nobreza da casa. Um lar?
O fogão à lenha aquecia os invernos frios e os corações, e na cozinha todos se reuniam; mais pelo calor do que por qualquer outra coisa.
Haviam mãos quase sagradas, rudes e amorosas. Mãos que religiosamente aos sábados, e, por mais de cinquenta anos amassaram o pão nosso de cada dia. Dois pães de forma grandes limentariam quatro crianças, duas mulheres adultas e uma velha senhora por sete dias, mais a quem chegasse pra visita. "Vamo entrando?"
A vida em si era um ritual. A confecção do pão caseiro, porém, o ponto alto da cerimônia.
Farinha, água  e fermento eram misturados e amassados pelas mãos cansadas, de dedos tortos pelo muito que trabalhavam.
Salpica farinha e amassa, amassa e sova, e salpica mais farinha e sova mais um pouco, até que como em passe de mágica a massa abre umas fendas que se expandiam vagarosamente. Pareciam pétalas se abrindo em flor! Tinha chegado ao ponto certo, o que  era segredo guardado a sete chaves.
A mulher então dava sossego a massa. Gravava com as mãos sobre ela uma cruz como que abençoando e deixava descansar por um bom tempo. Jamais respondeu ao " por que tem que fazer a cruz ?", desconversava...
Um gato que raramente dava as caras surgia do nada,  era quando as crianças se aproveitavam pra puxar-lhe o rabo. O gato disparava em  fuga fazendo jus ao nome de batismo: "Foguete".
As mãos quase sagradas matavam galinha pro almoço dominical e entre as crianças saía briga quando as galinhas cacarejavam, sinal que haviam posto ovos. É a minha vez, é a minha vez!!!
As mãos da mulher,  aquelas  mãos quase sagradas, alimentavam todos os animais do terreiro; os coelhos, os porcos, a cabra e o cachorro; único que escapava do sacrifício, em ocasiões especias; Natal, Páscoa e  domingos, ocasiões propícias à  degola.
Às vezes, raramente, Maria ia a missa. Tinha muito o que cuidar!
As mãos dela  trabalhavam incansavelmente e como autômatas, uma vez ou outra levantavam o avental que ela usava sempre, sempre, sempre, e, com a ponta enxugava uma lágrima no canto de um olho, depois do outro. Seriam lágrimas, seria a fumaça do fogão à lenha ou seria um cisco?  Não soluçava a mulher...
Quando Maria pegava um recém nascido ao colo, sorria. Só então ela, que nunca tivera filhos, sorria. Naqueles momentos  deixava transparecer um brilho novo no olhar. Felicidade? Ninguém soube dizer.
Morreu Maria, o fogão é a gáz e pão nosso, de padaria.
Sandra May



Casa antiga
Imagem autoral




A ARTE DE SER FELIZ

Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Cecília Meireles


day life pink light sun


ESCULTURAS


LAGOA HENRIQUES
(escultor português 1923 - 2009)
O segredo
Por Manuelvbotelho - Obra do próprio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=25971231

A Conquista de Ceuta

Por JotaCartas - Obra do próprio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=16309171


D. Sebastião

Por Joseolgon - Obra do próprio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=31509548


Fernando Pessoa
Por Original Photograph taken by Nol Adersderivative work: Waugsberg, 2012-04-04 - Este ficheiro foi derivado de  Lisboa-Pessoa-A Brasileira-1.jpg:, CC BY 2.5, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=18966199



OS POEMAS


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Mário Quintana

nature animals bird flying

A JANELA DO MEU QUARTO

Quintane-se a poesia!

Quando abro a cada manhã a janela do meu quarto
É como se abrisse o mesmo livro
Numa página nova...
Mário Quintana




Hoje amanheceu com flores novas, nascidas de madrugada.

O jardim está sossegado e as flores são branca, estamos entrando no outono. Já não cantam tanto os passarinhos que durante o verão não davam sossego, e que bom que foi assim!

Não sei se partiram  em busca de lugares mais quentes, não sei, mas a saíra e o sabiá não tem aparecido por essas bandas...
Sandra May

BILHETE

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Mário Quintana






RESSURREIÇÃO


O que dizer do amor que morreu?
- Ressuscitou, ele vive!
Sim, porque o amor também morre
Ressuscitando em novos nomes.
Sandra May



Imagem da internet

As rosas despedaçadas

...E  por não aceitarem o despetalar
De suas já não tão formosas rosas
Foram vistos  cegos, errantes e inúteis
Cavalgando por áridos desertos
A procura de novas flores
Que nem flores eram, nem formosas
Plásticas, sem vida e sem perfume
São miragens, são tudo, só não são rosas
Por sua vez, as preteridas
Que já foram flores formosas
Por mãos descuidadas se tornaram
Rosas despedaçadas.
Sandra May


Frances Brundage:





SEDUÇÃO


Oi gente, esse post foi feito pensando na dependência das pessoas ao uso do celular. Fiquei um bom tempo observando algumas situações e o que não faltou foi material. 
Procurei na edição das fotos, desfocar ou cortar os rostos, mas, se alguém se identificar nas imagens e não concordar com a postagem, basta entrar em contato comigo que retirarei as mesmas.
Sandra May






















Todas as imagens e a edição são de minha autoria
Sandra May