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Amadora, metida a poeta. Não me levem muito a sério...rss!

PERFUME DE ESTRELAS


Permitiu-se interromper o trabalho e respirar no jardim um perfume de estrelas.
A lua, tão ausente, e a chuva fina que persistia confortaram-na. Tudo estava certo no tempo e no espaço.
Lembrou-se da Oração da Serenidade, que aprendera quando frequentara um grupo Anônimo.
Ela fechou suavemente os olhos e entregou-se a meditação. Respirou profundamente várias vezes e orou. Depois agradeceu por ter tido forças para orar quando o desejo que sentia era o de beber. Beber muito e esquecer todas as dores que sentia. E beber mais e mais, até que acordasse sem dor de cabeça, sem vômitos, sem culpa, sem medo e sem recordações.
Ela queria acordar transformada em brisa suave;  não mais gente, nem bicho, apenas um elemento que pudesse refrescar a tarde das senhoras e dos senhores tristes e solitários que cochilavam sentados nos sofás rotos dos  asilos. Ela queria dar movimento às flores dos vasos da varanda, na tentativa de desviar os olhos  daqueles seres esquecidos e entregues à mais profunda solidão. O chão frio para onde todos olhavam  parecia  convidá-los para o descanso merecido.

Depois de orar, sabendo que aquele momento era apenas uma trégua durante o combate, ela completou a oração dizendo: "Só por hoje - procurarei viver apenas um dia de cada vez, sem tentar resolver ao mesmo tempo todos os problemas da minha vida. Durante vinte e quatro horas apenas, poderei fazer alguma coisa que me encheria de pavor se eu pensasse que tinha de a fazer pelo resto da minha vida. 

Permaneceu no jardim por não sabe quanto tempo...

Pensou nas hortênsias que seu amado tinha plantado ali e que já haviam morrido, assim, prematuramente como ele morrera. "Devem ter morrido de saudades", considerou.
Lembrou do aquário cheio de peixinhos vermelhos com que ele a presenteara, e refletiu também no quanto eles tinham rido juntos deitados na mesma rede onde ela estava agora.
Não sentia saudade de nada e de ninguém, estava no momento "agora", onde só existe perfeição e bem-estar. A vida passava como um filme, e ela apenas observava, em estado de vigília.
Dormiu.


Talvez a ignorância e a cegueira fossem o motivo de algumaas pessoas  estranharem quando ela dizia sentir o perfume das estrelas em dias chuvosos e arrastados... riu!
Sandra May

Aquilo que pensas ser o cume é apenas mais um degrau - Sêneca

 Imagem gratuita: Pixabay

Imagem de álbum de família (todos os direitos autorais reservados)


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Kohelet (faz parte dos livros poéticos da Bíblia)

Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor.  Eclesiastes 1:18




Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás.
Reparte com sete, e ainda até com oito, porque não sabes que mal haverá sobre a terra.
Estando as nuvens cheias, derramam a chuva sobre a terra, e caindo a árvore para o sul, ou para o norte, no lugar em que a árvore cair ali ficará.
Quem observa o vento, nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará.
Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas.
Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará, se esta, se aquela, ou se ambas serão igualmente boas.
Certamente suave é a luz, e agradável é aos olhos ver o sol.
Porém, se o homem viver muitos anos, e em todos eles se alegrar, também se deve lembrar dos dias das trevas, porque hão de ser muitos. Tudo quanto sucede é vaidade.
Alegra-te, jovem, na tua mocidade, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade, e anda pelos caminhos do teu coração, e pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas te trará Deus a juízo.
Afasta, pois, a ira do teu coração, e remove da tua carne o mal, porque a adolescência e a juventude são vaidade.


Eclesiastes 11:1-10

PALAVRAS

Das palavras, as mais simples. Das simples, a menor”

 Winston Churchill




Qual a palavra
Em festa e florida
Coroada de rosas miúdas
E camélias entrelaçadas
Capaz de romper o silêncio
Afiado num esmeril molhado
Que faz uma faca afiada
Degolar um bem querido?

Qual a palavra sagrada
Que tem unguento
Que cura chaga
É proferida na noite
No meio de uma encruzilhada?

Qual palavra é capaz
De passar a limpo
As pancadas
Os castigos sem motivos
Pela embriaguez das madrugadas?

Qual a palavra  perfeita
De poder pra perdoar
O momento que a vida machuca
Sem nem saber porque machuca
Apenas pelo alívio em machucar?

Corre, te esconde
Se proteja
Faz uma prece
Sê batizado
Nasce de novo

Pede pra Ela
Suplica pra Ele
Troca essa pele
Antes que te entreguem 
A vil decrepitude

Antes que te encontres
 Sozinho
Triste e desprezado
Sem teu maior bem:
Tua dignidade

Qual a palavra
Colorida e adornada
Guirlanda enfeitada
Vem acompanhada por harpas
Címbalos e alaúdes
Capaz de romper a madrugada?
A aurora já vem vindo
"Desperta tu que dormes!"
Sandra May


Obs: A primeira e a última estrofe tem oito versos cada. As outras, cinco versos cada. Todas sem compromisso com rima ou métrica.

Ainda não sei quando voltarei a postar com frequência. Eu havia dito aqui que pretendia publicar alguma coisa de 15 em 15 dias, sempre as segundas-feiras. Mas não deu.
Um abraço em todos!



"Se faltar a palavra as Letras Não Se Movem."



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