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Amadora, metida a poeta. Não me levem muito a sério...rss!

GOSTO QUANDO ME FALAS DE TI

Imagem: Pixabay

Gosto quando me falas de ti…
e vou te percorrendo
e vou descortinando a tua vida
na paisagem sem nuvens,
cenário de meus desejos tranquilos
Gosto quando me falas de ti…
e então percebo que antes mesmo de chegar,
me adivinhavas,
que ninguém te tocou, senão o vento
que não deixa vestígios,
e se vai desfeito em carícias vãs…
Gosto quando me falas de ti…
quando aos poucos a luz
vasculha todos os cantos de sombra,
e eu só te encontro
e te reencontro em teus lábios,
apenas pintados, maduros,
mas nunca mordidos antes da minha audácia.
Gosto quando me falas de ti…
e muito mais adiantas
em teus olhos descampados, sem emboscadas,
e acenas a tua alma, sem dobras, como um lençol distendido,
e descortino o teu destino,
como um caminho certo,
cuja primeira curva foi o nosso encontro.
Gosto quando me falas de ti…
porque percebo que te desnudas como uma criança,
sem maldade,
e que eu cheguei justamente para acordar tua vida
que se desenrola inútil
como um novelo que nos cai no chão…
J.G. de Araujo Jorge (1914/1987)
“Quatro Damas” 1a ed. 1965
Publicado originalmente em Esconderijo Secreto

Via Espessa

"Da carne de mulheres, querem nascer os homens. 
E o poeta preexiste, entre a luz e o sem-nome."

Danae - Gustav Klint
I
De cigarras e pedras, querem nascer palavras.
Mas o poeta mora
A sós num corredor de luas, uma casa de águas.
De mapas-múndi, de atalhos, querem nascer viagens. 
Mas o poeta habita
O campo de estalagens da loucura.
Da carne de mulheres, querem nascer os homens. 
E o poeta preexiste, entre a luz e o sem-nome.
Hilda Hilst