Permitiu-se interromper o trabalho e respirar no jardim um perfume de estrelas.
A lua, tão ausente, e a chuva fina que persistia confortaram-na. Tudo estava certo no tempo e no espaço.
Lembrou-se da Oração da Serenidade, que aprendera quando frequentara um grupo Anônimo.
Ela fechou suavemente os olhos e entregou-se a meditação. Respirou profundamente várias vezes e orou. Depois agradeceu por ter tido forças para orar quando o desejo que sentia era o de beber. Beber muito e esquecer todas as dores que sentia. E beber mais e mais, até que acordasse sem dor de cabeça, sem vômitos, sem culpa, sem medo e sem recordações.
Ela queria acordar transformada em brisa suave; não mais gente, nem bicho, apenas um elemento que pudesse refrescar a tarde das senhoras e dos senhores tristes e solitários que cochilavam sentados nos sofás rotos dos asilos. Ela queria dar movimento às flores dos vasos da varanda, na tentativa de desviar os olhos daqueles seres esquecidos e entregues à mais profunda solidão. O chão frio para onde todos olhavam parecia convidá-los para o descanso merecido.
Depois de orar, sabendo que aquele momento era apenas uma trégua durante o combate, ela completou a oração dizendo: "Só por hoje - procurarei viver apenas um dia de cada vez, sem tentar resolver ao mesmo tempo todos os problemas da minha vida. Durante vinte e quatro horas apenas, poderei fazer alguma coisa que me encheria de pavor se eu pensasse que tinha de a fazer pelo resto da minha vida.
Permaneceu no jardim por não sabe quanto tempo...
Pensou nas hortênsias que seu amado tinha plantado ali e que já haviam morrido, assim, prematuramente como ele morrera. "Devem ter morrido de saudades", considerou.
Lembrou do aquário cheio de peixinhos vermelhos com que ele a presenteara, e refletiu também no quanto eles tinham rido juntos deitados na mesma rede onde ela estava agora.
Não sentia saudade de nada e de ninguém, estava no momento "agora", onde só existe perfeição e bem-estar. A vida passava como um filme, e ela apenas observava, em estado de vigília.
Pensou nas hortênsias que seu amado tinha plantado ali e que já haviam morrido, assim, prematuramente como ele morrera. "Devem ter morrido de saudades", considerou.
Lembrou do aquário cheio de peixinhos vermelhos com que ele a presenteara, e refletiu também no quanto eles tinham rido juntos deitados na mesma rede onde ela estava agora.
Não sentia saudade de nada e de ninguém, estava no momento "agora", onde só existe perfeição e bem-estar. A vida passava como um filme, e ela apenas observava, em estado de vigília.
Dormiu.
Talvez a ignorância e a cegueira fossem o motivo de algumaas pessoas estranharem quando ela dizia sentir o perfume das estrelas em dias chuvosos e arrastados... riu!
Sandra May
Aquilo que pensas ser o cume é apenas mais um degrau - Sêneca
Imagem gratuita: Pixabay
Imagem de álbum de família (todos os direitos autorais reservados)
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